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"Em artigo de opinião aqui publicado em 22/09/10, o 'lacorrilho' Vasco Graça Moura utiliza um excerto de declarações minhas ao Expresso, descontextualizando-as por forma a justificar ou avalizar a sua tese de focagem de uma falsa imigração ilegal, para esconder ou ludibriar actos de puro racismo e xenofobia.

Utilizando as minhas declarações de que '... os ciganos portugueses vêem com apreensão a chegada dos novos ciganos...', chega à conclusão, tão apressada quanto incorrecta, de que '... os ciganos romenos... em Portugal até seriam indesejados pela própria etnia...'.

Sei que apreensão rima com expulsão, mas todos sabemos que têm sinónimos diferentes e, do que estamos a falar e a assistir, não é da apreensão que o Estado francês demonstrou pela entrada de cidadãos europeus da Roménia no seu território, mas sim da expulsão desses cidadãos europeus de um país europeu, a França, repatriando-os para outro país europeu, a Roménia.

Não há notícia de práticas criminosas pelas quais fossem julgados estes cidadãos, tão-só alarido e incómodo social.

É neste contexto que a França determina a expulsão dos cidadãos-ciganos naturais da Roménia-Europa.

A justificação ou pretexto invocado pelo Governo francês, e esgrimido pelo prof. Vasco Graça Moura no seu artigo, é estarmos perante uma situação de imigração ilegal, dando-se ao impropério de comparar os cidadãos ciganos da Roménia aos cidadãos africanos, esquecendo e confundindo que a Roménia foi aceite pela França e pelos restantes Estados membros da Comunidade Económica Europeia e que no seu seio vigora a livre circulação de pessoas entre os Estados, sendo a Roménia membro de pleno direito da Comunidade.

A situação é tão mais grave quando sabemos os problemas que a França tem tido com a imigração magrebina, africana, essa sim, muito provavelmente ilegal, e não há conhecimento público de acções de expulsão ou repatriamento desses cidadãos, mas sim e tão-só dos ciganos romenos, isto é, dos cidadãos europeus.

Podemos tentar cobrir estas acções com as 'vestes' que quisermos, mas do que estamos a falar e assistir é a actos de racismo e xenófobos praticados pelo Estado francês contra cidadãos da Europa que nasceram ciganos e na Roménia.

Mas também quero tornar claro que todo este ónus não pode cair tão-somente na França pela sua atitude, a todos os títulos condenáveis, mas também e necessariamente à própria Roménia ,que nada fez para integrar a sua comunidade cigana, para não dizer que tudo fez para que a mesma saísse em massa do seu território.

Aliás, não há-de ser por acaso que não temos notícia da reacção do Governo romeno à repatriação dos seus cidadãos, nem em defesa dos direitos que estes cidadãos têm no território europeu.

Todos sabíamos através da imprensa internacional que no período de pré-adesão da Roménia à CEE existiam milhares de seus cidadãos de etnia cigana concentrados nas suas fronteiras, à espera de livremente entrarem no espaço económico europeu, nomeadamente na Alemanha.

A adesão da Roménia deu-se em 2007.

É legítimo perguntar o que é que a Comunidade fez para que esta 'invasão' não acontecesse? Que cautelas? Que políticas? Que programas? Que acompanhamento?

Mas também à Roménia, país aderente à CEE, cabe explicar aos seus pares o que fez para que os seus cidadãos de etnia cigana não debandassem em massa do seu território. Que políticas? Que programas? Que acompanhamento?

O prof. Vasco Graça Moura foi membro do Parlamento Europeu entre 1999 e 2009, isto é, em plena adesão da Roménia à CEE, constituindo-se assim na pessoa mais indicada para responder a estas questões e ao mesmo tempo nos revelar qual o seu papel e a sua intervenção na resolução deste problema que já se anunciava antes de 2007.

Só encarando os problemas de frente se consegue encontrar solução para os mesmos.

Mascarar os problemas é adiar a sua resolução e basta de adiamentos.

Os ciganos existem e, neste caso, são cidadãos europeus.

A Comunidade Económica Europeia tem a primeira e a última palavra nesta questão.